quinta-feira, 23 de abril de 2009

Figos frescos
Quem sempre foi comedido a comer nunca soube o que é uma comida, nunca a conheceu a fundo. Desse modo conhece-se, quando muito, o prazer de comer, mas não a gula, o desvio da estrada plana do apetite, que conduz à selva da glutonice. Na glutonice juntam-se as duas coisas: a desmedida do desejo e a uniformidade daquilo que o sacia. Comer como um animal significa: de uma vez, sem deixar resto. Não há dúvida de que assim se chega ao mais fundo da coisa devorada do que pelo prazer de comer. Como quandpo se dá uma dentada na mortadela como se fosse um pão, como quando nos enfronhamos no melão como numa almofada, (...) ou esquecemos pura e simplesmente tudo o mais que neste mundo é comestível diante de uma bola de queijo flamengo. Como tive eu pela primeira vez uma experiência destas? Foi antes de uma decisão das mais difíceis. Tinha uma carta que, ou metia no correio, ou rasgava. Andava com ela no bolso há dois dias, mas nas últimas horas deixara de pensar nisso. (...) Eu segui vagarosamente o meu caminho, atordoado, quando dei com um carro cheio de figos, à sombra. Foi por puro ócio que me aproximei, foi por esbanjamento que comprei, por uns quantos soldi, um quarto de quilo. (...) Assim saí dali com figos nos bolsos das calças e do casaco, figos em ambas as mãos estendidas, figos na boca. Não podia parar de comer, tinha de procurar defender-me o mais depressa possível daquela massa de frutos rijos que me tinham assaltado. Mas aquilo já não era comida, era um banho, de tal modo o aroma resinoso me penetrava na roupa, se me pegava às mãos, enchia o ar através do qual eu ia arrastando o meu fardo. E a seguir veio o desfiladeiro do paladar, no qual, depois de vencidos o fastio e o enjoo, as últimas curvas, a vista se abre sobre uma inesperada paisagem do palato: uma maré de gula, insípida, contínua, esverdeada, que já só conhece as ondas fibrosas e pastosas da polpa dos frutos abertos, a transformação total do prazer em hábito, de hábito em vício. Senti subir em mim um ódio contra aqueles figos; tinha pressa em acabar com aquilo, libertar-me, afastar de mim aquelas coisas gordas que rebentavam, e comia para as destruir. A dentada tinha recuperado a sua mais remota vontade. Quan do arranquei do fundo do bolso oúltimo figo, a carta estava pegada a ele. O seu destino estava traçado, também ela tinha de ser sacrificada à grande limpeza: peguei nela e rasguei-a em mil pedaços.
Walter Benjamin

terça-feira, 21 de abril de 2009

Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...


Camilo Pessanha

domingo, 12 de abril de 2009

4 de Abril, Centro Cultural Vila flôr (Guimarães)



Assim foi o concerto de apresentação do novo disco de Pedro Moutinho, "Um copo de sol", em Guimarães.

O público teve, ainda, o prazer de ouvir e ver a participação especial da Teresinha numa desgarrada de fado.

Foi uma noite de céu estrelado :D



quinta-feira, 2 de abril de 2009

Paris ao rubro!

Paris é indiscutivelmente fantástica!

Lá vivi momentos que nunca na vida esquecerei. E dizendo isto, não penso em excentricidades, recordo mesmo as coisas simples. Ai como era bom ir ao mercado nas manhãs de domingo e voltar com uma baguete quentinha já trincada a meio do caminho, passear ao fim da tarde pelo jardin du Luxembourg, descer a Boulevard Saint Michel, parar para respirar em frente a Notre Dame, seguir rumo a Châtelet e quando era hora, voltar para casa naquele RER cheio de gente apressada e de turistas felizes.

Guardo esta cidade com muito carinho, bem dentro do coração. Um ano das nossas vidas é tanto mas ao mesmo tempo...tão pouco. Talvez seja por isso que, sempre que posso, volto. E volto porque lá ficaram amigos, porque lá ficaram os sítios, porque lá ficaram... as memórias trouxe-as comigo, porque por mais que as partilhe, continuarão a ser só minhas.

Desta última vez, tive o prazer de partilhar alguns desses momentos com uma amiga e...já agora, aproveitámos para viver outros novos e só nossos, também. Até Paris ganhou encanto por receber la belle Cátia. Divertimo-nos muiiiito porque quando nos juntamos deixamos de lado as aparências e passamos a ser cúmplices neste jogo do contentamento.
Aqui ficam algumas das fotos que consideramos mais aceitáveis porque, apesar de tudo, ainda temos uma imagem a defender ;)
Mónica Cunha


















Teresinha é nome de fado!




Uma menina amorosa, cheia de talento, que com apenas 13 anos faz brilhar os olhos de quem a ouve cantar o fado.